quinta-feira, 1 de julho de 2010

Mississipi em Chamas (1988)

Alan Parker inicia seu filme com uma história verídica, de 1964, quando três jovens ativistas dos direitos humanos são brutalmente assassinados no Mississipi, na pequena cidade de Jessup. Apesar do seu enfoque ficcional, pois a relatos que a verdade foi bem outra, o filme de Parker aborda temas bem instigantes como a KKK, o racismo escrachado por parte da população branca da cidade e até a conivência dos órgãos públicos que fecham seus olhos para as barbáries que acontecem no dia a dia.

Parker coloca em cena dois agentes do FBI para iniciarem a investigação. Um burocrata de Washington interpretado por Willem Dafoe, obstinado a resolver o caso e extremamente metódico em seus procedimentos, é dele a frase que resume o problema em que estão metidos: “ este saco de gatos só abre de dentro para fora”.

Como seu apoio está o soberbo Gene Hackman, um ex-xerife da região, conhecedor do problema e da população ele aparenta ser bastante tolerante. Indiferente aos aparatos e métodos científicos de Dafoe busca informações através de conversas em bares e com o povo local.

Após muitos choques entre os dois personagens cada um descobre o valor do outro e quando Hackman assume a investigação pelos seus métodos o filme se torna um thriller de primeira.

Um dos pontos mais fortes do filme e a Fotografia que levou o Oscar em 1988. Ela é apreciada já na cena inicial do filme que é extremamente marcante, ela resume o que iremos ver dali por diante, uma segregação agressiva e marcante e que em vários momentos choca por mostrar a que ponto o ser humano pode chegar baseado um uma ideologia que prega as diferenças de classes e o separatismo. O Filme deixa nas entrelinhas que a base da doutrina de supremacia branca da Ku Klux Klan remete diretamente ao nazismo de Adolf Hitler que o povo americano tanto exorcizou.

Parker tem uma direção forte e segura, faz uma contundente denúncia das atrocidades racistas, ocorridas no Sul dos EUA, tanto que o filme foi indicado ao Oscar de Melhor Filme e Direção. Mississipi em Chamas "classifica-se como um dos retratos mais poderosos e pungentes sobre conflitos raciais jamais produzidos" (Variety).

Quem realmente rouba o filme é Gene Hakman, que apresenta um personagem com jeito de matuto, mas profundo conhecedor do terreno onde esta pisando e sabe que cada ação por parte do FBI terá uma reação maior contra a população negra da região.

Outro personagem que se destaca, ainda em início de carreira, é a dona de casa interpretada por Frances McDormand, mesmo contrária aos métodos utilizados se vê encurralada na acomodação. É dela uma das frases mais tocantes do filme: “Você não nasce com o ódio. Ele é ensinado. E, aos sete anos de idade, depois de usarem até a Bíblia para justificar, você acredita em tudo que disserem.”

Parker nos dá um belo filme, retrato de uma época de dissimulações, da falta de aceitação e principalmente da segregação racial.

Na Wikipédia existem algumas curiosidades que achei importante publicar. O filme foi criticado por muitos, incluindo o historiador Howard Zinn, pela sua fictionalização da história real. Enquanto os agentes do FBI são apresentados como os heróis do filme, na realidade, o FBI e o Departamento de Justiça mal protegeram os civis ameaçados da pequena cidade e, alegadamente, observaram pessoas sendo espancadas sem intervir.

Em 21 de junho de 2005, 41 anos após os assassinatos, Edgar Ray Killen (na ocasião com 80 anos) foi condenado a sessenta anos de prisão pelo assassinato dos três civis cujas histórias são contadas no filme

Não deixe de ver.

Abaixo algumas indicações e premios recebidos pelo filme:



Oscar 1989 (EUA)

• Venceu na categoria de Melhor Fotografia.

• Indicado nas categorias de Melhor Ator (Gene Hackman), Melhor Atriz Coadjuvante (Frances McDormand), Melhor Direção, Melhor Edição, Melhor Filme do Ano e Melhor Som.

Globo de Ouro 1989 (EUA)

• Indicado nas categorias de Melhor Diretor - Cinema, Melhor Filme - Drama, Melhor Atuação de um Ator em Cinema - Drama (Gene Hackman) e Melhor Roteiro - Cinema.

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