O motivo das conversas com ele sempre é o mesmo. Respira cinema por todos os poros e tem na arte o oxigênio da própria vida. Nos nossos encontros, Holetz repete uma frase com frequência: “quero ter um milhão de amigos”. Desde que o conheci, numa sessão de cinema do Programa Cine Arte, da Fundação Cultural de Blumenau, em 2004, tive a certeza de estar diante de uma rara pessoa, cujo amor pelo que faz, a torna difícil de ser compreendida aos olhos da multidão. Deixa uma lição de amor e entusiasmo de quem nunca desistiu da paixão que o faz se sentir vivo.
O poder público pode investir mais do que faz para manter uma programação rica e diferenciada fora dos grandes complexos de cinema, em Blumenau. Não dá lucro, não leva multidões, mas é necessário manter uma programação alternativa, com filmes que fogem do apelo comercial. Holetz prova que coordenar um cinema hoje, fora do circuito das grandes redes, é coisa para quem é realmente fascinado pela atividade e não se rende diante das dificuldades.
Holetz entende que o cinema não é apenas entretenimento. Na sala reservada à coleção particular, que mantém na casa onde mora, no Bairro Ribeirão Fresco, uma frase resume o pensamento que cultiva: “Cinema... o instrumento de expressão e de cultura mais perfeito de todos os tempos”. Quem conhece sua trajetória, sabe que o cinema para Holetz é uma forma de libertação. Quando tinha cinco anos, foi vítima de malária. A mãe, que já tinha perdido o primogênito, Alfredo, num acidente doméstico, superprotegeu Holetz. Isso fez com que tivesse uma infância diferente dos colegas, passando a maior parte dela em casa, aos cuidados excessivos da matriarca.
Talvez seja difícil para aqueles que não o conhecem compreender os motivos que fizeram Holetz dedicar a própria vida ao cinema. No Cinema Paradiso, o projecionista Alfredo compara o trabalho a uma escravidão. “Você fica sozinho, vê 100 vezes o mesmo filme. Só faz isso. Conversa com Garbo e Tyrone Power como louco. Trabalha como um jegue”. Holetz perdeu a conta dos feriados que passou no Cine Busch nos mais de 40 anos de trabalho. Mas, como Alfredo, a recompensa da dedicação era a alegria de ver a plateia se divertir com a exibição. Fazê-la esquecer por alguns minutos das desgraças e tragédias da vida.
A exemplo de um filme, a trajetória do cinéfilo teve momentos de ascensão e calmaria. A homenagem que recebe do Festival de Cinema de Blumenau contribui para o reconhecimento da luta que trava em defesa da preservação do patrimônio cultural. “Seo Holetz do Cinema” como passou a ser chamado, não se deixa abalar pelas amarguras da vida ou pela falta de apoio. Viu o próprio sonho desabar quando o Cine Busch fechou e lutou para evitar isso com todas as forças que pôde. Mas a maneira como resistiu às intempéries e perseguiu o sentido que deu para vida faz dele um obstinado, como Alfredo.
Fonte:http://www.clicrbs.com.br/jsc/sc/impressa/4,1124,3735349,19455
Autora: Magali Moser