domingo, 29 de maio de 2011

O Poder e a Lei (2011)

O Poder da Lei” é uma adaptação ao cinema do livro Advogado de Porta de Cadeia (publicado pela Editora Record no Brasil), de Michael Connelly. Lançado de forma discreta nos EUA o filme foi uma grata surpresa nas bilheterias americanas arrecadando US$ 56 milhões, o que é uma quantia significante ante os custos da produção. O filme também gerou uma discussão por apontar o que muita gente acredita ser uma reação do público adulto contra a atual produção infantilizada de Hollywood.

Matthew McConaughey não é Paul Newmann, como foi alardeado em 1996, na época do lançamento de “Tempo de Matar”, mas veste à perfeição esse tipo de papel que pede mais carisma e presença de cena do que talento em si.

Ele é Mick Haller, pai de família separado, advogado que circula em Beverly Hills com seu motorista negro em seu escritório móvel, dentro de um Ford Lincoln, daí vem a origem do titulo original “The Lincoln Lawyer” , defendendo causas típicas de porta de cadeia.Mick é levado até o playboy Louis (Ryan Phillippe),filho de uma família rica do ramo imobiliário, preso por tentativa de estupro e agressão brutal contra uma prostituta. O advogado aceita o caso, mesmo incerto da inocência do cliente e consegue a soltura do acusado sob fiança e estuda a melhor estratégia de defesa.Mas ao ser defrontado com diversos fatos paralelos aos poucos Mick começa a ser envolvido em um jogo de gato e rato, o que exige que Mick reavalie seus valores.

O diretor Brad Furman nos da um filme com boa dose de suspense, bem como um bom filme policial com muitas reviravoltas.

Água Para Elefantes (2011)

O diretor Francis Lawrence acertou a mão ao levar as telas os quadrinhos de “Constantine” e a terceira adaptação do livro homônimo de Richard Matheson, em “Eu Sou a Lenda”, Mas aqui Lawrence se perde no drama mais realista e romântico, que se passa na grande depressão de 1930.

Lawrence tinha o cenário ideal para fazer um drama pungente e cativante mas se perde em seus personagens, o que resulta em um filme agradável de ver, com uma mensagem otimista, mas sem grande profundidade. O tipo filme para elevar o espírito com água e açúcar.

A historia se desenrola no início dos anos 1930, plena depressão nos Estados Unidos. O jovem Jacob Jankowski (Robert Pattinson) se encaminha para a prova final da faculdade que Dara o seu tão sonhado diploma de veterinário, na hora da prova final, uma tragédia acaba por deixá-lo sozinho no mundo. Jacob então sai andando sem rumo, até avistar um trem. Mal sabia ele que ao pegar carona clandestinamente estaria entrando em um mundo novo e mudando de vez sua vida.

Bem numa daquelas conjunções astrais tão freqüentes na ficção, a história escrita originalmente no livro homônimo de Sara Gruen e adaptada no roteiro de Richard LaGravenese, o jovem veterinário cai justamente no meio de um circo cheio de animais, que vão de cavalos e leões até ao elefante que da titulo a historia, como diz Jacob a certa altura "Não sei se eu escolhi aquele circo ou foi ele que me escolheu". Jacob acaba criando uma paixão pelo circo bem como o seu interesse por Marlena (Reese Witherspoon), a estrela do espetáculo e, não por acaso, esposa do dono do circo. E é neste triângulo amoroso, tão iminente quanto perigoso, que vamos conhecendo seus personagens, principalmente August (o ótimo Waltz), esposo de Marlena, que tem uma persona extremamente volátil, trocando a cordialidade pelo brutalismo em questão de segundos. O desfecho de tudo isso é tão previsível e pesado quanto os passos do elefante do título, que, aliás, é secundário à história em si.

O quadro geral do filme tinha todos os elementos para ficar ótimo, mas o problema é que não conseguimos criar uma empatia pelos personagens, e sem conseguir se envolver com os personagens fica difícil também se influenciar pelo seu drama romântico.

No final nem as lágrimas, tão esperadas nas típicas produções gênero aparecem para aplaudir o final.

Vampiros da Alma (1956)

Digo que “Vampiros de Almas” é um filme que tem seu lugar na historia da sétima arte, por ter se tornado uma forte influência no gênero da ficção científica.
A trama inicia com o relato do Dr. Miles em flashback, contando os fatos que se sucederam após seu retorno de um congresso médico, à Santa Mira, uma pequena cidade na Califórnia, e estranha os relatos de vários pacientes que insistem que seus familiares são impostores, apesar de manterem a aparência física. A princípio encara o fato com ceticismo, mas alguns dias depois é testemunha de um estranho caso envolvendo seus amigos e acaba descobrindo que tudo faz parte de uma invasão alienígena, que assume a forma das pessoas para conquistar seu objetivo.

Com direção de Don Siegel , que soube utilizar a trilha sonora de forma inteligente, para enfatizar o desespero dos protagonistas,o filme apesar de curto ( oitenta minutos) e muito bem construído e tenso do inicio ao fim, apesar de sua formula ser mais do que copiada, inclusive rendendo três outras versões que não chegam aos pés do original.

Outro ponto a ser citado é o fato do filme ser rodado em uma época em que os americanos tinham acabado de viver a caça as bruxas ou melhor o McCarthysmo (denominação dada ao período em que o senador Joseph McCarthy provocou uma verdadeira caça às bruxas nos EUA, com o objetivo de encontrar comunistas infiltrados nos mais diversos setores da sociedade americana), e outro ponto a ameça comunista que se iniciava com a Guerra Fria onde o grande inimigo eram os comunistas ou melhor os “comedores de criancinhas”, dando assim a obra uma mensagem indiretamente política sobre a invasão que acontece no filme.

Outro comentário deve ser feito a respeito do final da produção. Na verdade, duas análises são possíveis, uma apolítica e outra política. Nesta primeira, a conclusão pode decepcionar alguns, uma vez que deixa muito em aberto. Mas o último plano concebido por Don Siegel justifica qualquer possível reclamação, deixando bem claro que Vampiros de Almas é mais sobre o papel desempenhado pelo dr. Bennell em toda a história do que sobre a invasão propriamente dita.

Com importância histórica e cinematográfica, "Vampiros de Almas" é um filme obrigatório para qualquer cinéfilo. Não é perfeito, mas não deixa de ser um marco para o gênero de ficção cientifica e uma perfeita analogia política a sua época.

sábado, 28 de maio de 2011

SEM LIMITES (2011)

A ciência constatou que o ser humano só faz uso de 10 a 20% da capacidade de seu cérebro. Seria possível de alguma maneira aumentar este uso para 100%? Qual seriam as conseqüências, estaria o corpo humano preparado para tal, esta é a premissa de ótimo “Sem Limites

Em “Sem Limites” O aspirante a escritor Eddie Morra (Bradley Cooper) esta se afundando em uma depressão e por isso perde a namorada (Abbie Cornish) e está prestes também a ver escorrer pelos esgotos de Nova York o contrato que tem com uma editora e seu imundo apartamento em Chinatown. Andando sem destino pelas ruas da cidade, ele encontra o irmão de sua ex-esposa, que lhe oferece a solução para os seus problemas em formato de pílula. Trata-se de uma droga em fase de testes chamada NZT, que permite ao seu usuário ter acesso total ao seu cérebro e não apenas aos 20% que utilizamos normalmente.

Sem perspectivas, Eddie acaba experimentando a novidade. E quando "bate" o efeito do NZT ele muda. O filme muda. Eddie tem primeiro uma experiência fora de seu próprio corpo. A luz azulada e fria que predominava até então fica avermelhada, mais quente, refletindo o próprio aumento de confiança do personagem, que começa a ter acesso a informações que estavam perdidas nas quinas escuras da sua mente. Surge junto um sorriso largo, e em questão de minutos ele está tagarelando sobre direito, flutuações do mercado financeiro, ganhando dinheiro em mesas de pôquer, dormindo com as mais belas mulheres de Nova York e, no melhor estilo Bruce Wayne de briga, enfrentando brutamontes usando as memórias dos filmes do Bruce Lee e lutas de Muhammad Ali. O problema, porém, é que esta “turbinada cerebral” pode lhe trazer mais problemas que benefícios.

O diretor Neil Burguer (de O Ilusionista),mistura aventura e ficção científica, num entretenimento atrativo e eficiente. O filme tem agilidade, charme, prende a atenção e – cá pra nós – é impossível não morrer de inveja do protagonista quando ele se torna praticamente um super-homem com seu “novo” cérebro. É a realização do mito do sucesso imediato, sem esforço, absoluto, e sem prejudicar ninguém. O grande problema do filme é a mania dos produtores americanos que sempre acreditam que o público “pode não entender a mensagem” e teimam em deixar tudo explicadinho, nos mínimos detalhes. Assim Burguer inseriu ao filme uma narração em off redundante, desnecessária e, em determinados momentos, até irritante.

Mas “Sem Limites” é um filme competente,bem costurado, com efeitos na medida certa e uma idéia inteligente.

PS: Bradley Cooper mostra cada vez mais versatilidade e Robert de Niro para infelicidade dos fãs continua em piloto automatico.

Veja!

Rio (2011)

O brasileiro Carlos Saldanha chamou a atenção como co-diretor de “A Era do Gelo” em 2002 e acabou sendo o diretor das duas continuações que se desenrolam na Era Glacial. Com “Rio” Saldanha faz uma homenagem a sua cidade natal e entra na onda de preservação da fauna com a aventura de Blu, uma arara azul.


Rio” é de uma beleza fenomenal,lindamente animado, muito colorido, mas peca por ainda apresentar uma visão feita para agradar o mercado externo, o seja “O Brasil que gringo quer ver”.

Blu (Jesse Eisenberg) é uma arara azul brasileira, que foi capturada e levada quando filhote para um lugar frio e longínquo divertidamente identificado como “não é o Rio”. Ele é então criado por Linda (Leslie Mann), uma nerd americana dona de livraria, um tanto super protetora, mas com bom coração (e nenhum talento para sambar). Tudo muda quando Tulio (Santoro) convence Linda a levar Blu para o Rio de Janeiro, com o objetivo de procriar e salvar sua espécie. A história se desenvolve então numa espécie de road movie, onde Blu vai lidar com suas duas grandes inabilidades: socializar e voar.

Como animação “Rio” cumpre o seu papel,mas não surpreende, é um filme simpático, com cenas divertidas, mas falta algo de criativo, o algo a mais, tão constante nas produções da Pixar.

Veja!

domingo, 15 de maio de 2011

CACHÉ (2005)

Este é um filme para ser visto confortavelmente. Sente-se na poltrona , desligue os telefones. relaxe, esqueça o mundo lá fora, fixe os olhos na tela e prepare-se para uma experiência cinematográfica diferente do convencional. Esqueça as montagens MTV, o feitos sonoros, as soundtracks, os "grandes momentos" e os "grand finales" típicos das produções comerciais e entregue-se ao estranho mundo do cineasta alemão Michael Haneke, o mesmo de Fita Branca e “A Professora de Piano. Enfim, concentre-se para ver "Caché"

A primeira cena de “Caché” ilustra bem o aspecto do arrojado de Haneke. Trata-se de um longo plano estático de uma residência de classe alta, mostrada à distância, durante cinco minutos, sem cortes. Na metade da tomada, a imagem é congelada, rebobinada e depois avançada em alta velocidade, enquanto ouvimos duas pessoas que não aparecem na tela discutindo sobre ela. Só então descobrimos que não estamos vendo o filme em si, mas sim o filme dentro do filme – uma fita de vídeo que o casal de protagonistas de “Caché” assiste, na sua TV de plasma de alta definição.


Assim Haneke  inicia seu estudo sobre a imagem e seu efeito no homem contemporâneo. A princípio, esta parece uma definição simplista, mas o filme deixa latente o poder desestruturador da vigilância, mostrando o pânico crescente de uma família assustada pela misteriosa remessa de estranhas e anônimas fitas de vídeo. Mas Haneke vai mais longe ao questionar a natureza e o sentido das mídias audiovisuais, assim como o processo de criação delas. E como um bom artista que utiliza seu ofício para confrontar a realidade, Haneke não perde a oportunidade de estampar as relações ambíguas entres as classes socias, sempre partindo do ponto de vista do passado e da culpa. Em um ritmo lento ele vai envolvendo o espectador com longos planos parados e intrigantes que vão aos pouco nos  jogando num universo de torpor, angustiam, para depois pregar sustos intensos.

Atenção, preste bastante atenção à última tomada do filme, mais um daqueles planos estáticos de meia distância que pode ser, ou não, uma fita. É possível que ele ajude se bem observado, a esclarecer algumas perguntas que ficaram no ar.


Caché é um filme fascinante pelas coisas que diz, mas é ainda mais intrigante pelas que não diz, pelo que deixa no ar, para o espectador pensar em casa. Sóbrio e misterioso, o filme coleciona vários prêmios internacionais, entre eles Melhor Direção, Prêmio do Júri e Prêmio da Crítica Internacional em Cannes, e Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Ator (Daniel Auteil) no European Film Award.

Os Agentes do Destino (2011)

Os Agentes do Destino (Adjustment Bureau, 2011) é baseado no conto The Adjustment Team (1954), de Philip K. Dick (1928-1982), que já rendeu filmes intrigantes tais como “Blade Runner” e “Minority Report”, mas talvez o grande defeito aqui seja filme usar apenas uma sombra da premissa da obra original. Para Hollywood, o autor, que escrevia influenciado por drogas e via com enorme pessimismo o futuro, é excelente fonte de idéias, mas o desenvolvimento delas é sempre amainado em prol da abrangência de público.


Talvez o grande defeito do produtor e roteirista George Nolfi,que estréia na direção, tenha sido transformar a historia em um romance adocicado, do que uma ficção cientifica paranóica e contestadora digna de Philip K. Dick.


Nolfi tenta propor uma discussão sobre determinismo e livre arbítrio, mas apenas aranha a superfície, tentando agradar o grande publico.


O filme começa logo depois do congressista David Norris (Matt Damon), perder a eleição após a publicação de fotos do seu passado, e antes do discurso de agradecimento ele conhece no banheiro a bela bailaria Elise Sellas (Emily Blunt). Na manhã seguinte após este encontro casual e promissor, ao chegar ao escritório David descobre seus colegas paralisados por um grupo de engravatados de chapéu. Este fato ocorreu por uma falha do agente ou anjo, encarregado de atrasar David literalmente “dormiu no ponto”.
Começa então uma corrida entre o político e esses "agentes do destino", que são categóricos ao afirmar: ele jamais poderá entrar em contato com a mulher novamente, já que jamais deveria tê-la encontrado, e que isto é uma decisão do comandante que tem outros planos para David.


Há algumas boas cenas, como a perseguição usando os portais de atalho, que brinca com a percepção de espaço e a claustrofobia dos espaços exíguos de Manhattan, infelizmente o filme se foca na  relação entre David e Elise e a subsequente discussão sobre predestinação e amor. Não é um filme para puristas de ficção científica e muito menos para os fãs de K. Dick, mas uma sci-fi para ver ao lado da mulher amada, que com certeza vai gostar, uma vez que são poucas as mulheres fãs de sci-fi.

Minhas Mães e Meu Pai (2010)

Filme sobre famílias disfuncionais sempre renderam ótimos dramas, mas aqui temos uma versão mais cômica do assunto, e uma boa comedia que concorreu a 4 Oscars.

Dirigido pela roteirista e diretora Lisa Cholodenko, o filme aborda o relacionamento de Nic (Annette Bening) e Jules (Julianne Moore), casadas há quase 20 anos, e que conceberam os seus dois filhos, Laser (Josh Hutcherson) e Joni (Mia Wasikowska), por inseminação artificial. Joni vai completar 18 anos, está na hora de se mudar para o campus da faculdade, e por legislação já tem idade para solicitar à clínica médica os dados do homem que doou o esperma. É Laser quem implora a Joni para procurá-lo. Os adolescentes descobrem então Paul (Mark Ruffalo), e a ordem na família vira de cabeça para baixo, com direito a brigas e traições.

O filme não tem grandes pretensões, não se aprofunda em nenhum tema aborda tudo de maneira rasa, mas divertida. Quem esta ótimo é Mark Ruffalo como o típico self-made man, adepto do amor inter-racial e dono de um restaurante que tem a sua própria horta de orgânicos.
Apontar o dedo para a aparente normalidade da família americana - neste caso, o modelo moderno de família - não é novidade no cinema independente de Hollywood. O trunfo de "Minhas Mães e Meu Pai" é o seu elenco. Annette Bening encontra o tom certo da lésbica masculinizada e Julianne Moore, como sempre, traz fragilidade para a composição de sua personagem. É Julianne o norte do filme, enquanto Ruffalo nunca fez tão bem o seu recorrente papel de homem sensível ideal.

Minhas Mães e Meu Pai” é um filme leve para se assistir em uma tarde preguiçosa, não contribui para o intelecto, mas também não zomba dele como um monte de comedia  bobas que aparecem todos os dias. 

Copia Fiel (2010)

Se  nos anos 90 você se encantou com o cultuado “Antes do Amanhecer” de Richard Linklater, você com certeza vai gostar de “Copia Fiel”, que pode ser considerado uma versão para adultos do filme de Linklater, longe do universo da cultura pop que povoava os inspirados diálogos entre os jovens atores, aqui as discussões aqui são bem mais intelectuais.


Em seu primeiro filme rodado fora do Irã, o mais importante cineasta do país, Abbas Kiarostami,em parceria com a estrela francesa Juliette Binoche nos presenteia com uma obra inteligente e belamente filmada na Toscana, que discute a vida, a arte e o amor de forma adulta e inventiva.


No inicio de “Copia Fiel”, o escritor inglês James Miller (William Shimell) argumenta que se a qualidade uma obra de arte depende do contexto e está nos olhos de quem a vê, então uma falsificação pode ter a mesma validade do original e assim a decisão é do espectador.
James Miller precisa voltar para a Inglaterra, mas antes aceita de Elle (Juliette Binoche), uma francesa dona de galeria que há anos vive na Itália com seu filho, um convite para passear pelas ruazinhas da comuna de Lucignano.Elle discorda de vários tópicos abordados no livro de James, e de uma conversa que inicia de forma cerimoniosa, vamos sendo arrastados  para um debate sobre a autenticidade e a relação entre o original e a copia no mundo da arte.
 Passando por um café, Elle acaba iniciando uma conversa com a dona do café, o dialogo entre elas abre o espectro da situação a possibilidades até então impensadas e os dois são confundidos como marido e mulher, e por brincadeira passam a encenar esses papéis. O momento dessa virada é essencial nesta segunda etapa onde o diretor uma situação até aquele momento bem natural por um intrigante jogo de espelhos. Só então percebemos que fomos colocados numa casa de espelhos, desta de parque de diversão, onde o reflexo nem sempre é uma reprodução da realidade. É como se atravessassem um portal para o neo-realismo. A conversa entre o casal toma rumos inesperados e faz surgir a verdadeira natureza daquela discussão cultural.


Kiarostami disse em entrevista que cada um deve interpretar a obra como quiser, mas é inegável que duas obsessões de sua cinematografia iraniana seguem preservadas aqui: as mulheres e o tempo. E se o diretor apega-se ao close-up de Juliette Binoche, que nunca esteve tão bonita e tão vulnerável, que apresenta uma vitalidade muito rara e preciosa. Tudo nela é real, do cansaço físico fruto da rotina diária, passando pela alegria de compartilhar a felicidade alheia, até a frustração diante do olhar apaixonado, mas não retribuído.


Não deixe de ver!

sábado, 14 de maio de 2011

Ao entardecer (2007)

Ao Entardecer” me fez pensar na vida, quanto mais avançamos na idade mais nos pegamos pensando nas escolhas, nas decisões, no que foi priorizado e, principalmente, abdicado E este filme tem este sentido, fazer pensar, quando nos são apresentadas as lembranças e escolhas do passado de uma pessoa à beira da morte. 
Baseado na obra de Susan Minot, o filme mostra a sempre excelente Vanessa Redgrave, como Ann, já idosa, doente e não tão lúcida. Observada de perto pelas duas filhas, Nina (Toni Collette) e Constance (Natasha Richardson, filha de Redgrave na vida real), e uma enfermeira, ela começa a falar coisas que parecem sem nexo, e a fazer referência a pessoas de um passado completamente desconhecido para sua família. 
No início não sabemos se trata-se de algo real ou apenas ilusão, mas logo a história se esclarece. Em flashbacks, o diretor Lajos Koltai (cinematógrafo experiente, mas apenas em seu segundo longa como diretor) revela quem são os personagens do passado de Ann e a história marcante que, à beira da morte, volta à sua memória.
Ao acompanharmos a trajetória de Ann, que se desenrola quase somente em um final de semana mas que marca profundamente sua vida e das pessoas que lá estão, nos leva a refletir que há momentos na vida que são decisivos para os rumos que o futuro tomará.
 Ao entardecer” nos faz ver que há momentos cruciais na vida e as decisões tomadas terão um preço no futuro. Enfim, este é um filme que, embora não tenha tantas qualidades como cinema, tem o mérito de uma boa história, que faz o espectador repensar suas próprias escolhas em situações como essas, que de uma forma ou de outra mudam a vida.
Veja!

domingo, 8 de maio de 2011

O Ritual (2011)

Se você espera ver muito sangue, corpos deformados, etc. “O Ritual” não vai satisfazer suas necessidades. Este sim é um filme digno de estar na lista dos bons filmes que falam sobre o tema exorcismo, ou melhor, o filme pretende mostrar justamente o outro lado dos rituais exorcistas católicos que são usados ainda hoje em dia pela igreja. O fato é que o diabo fica em segundo plano, porque é mais drama do que terror. E isso o espectador fã do gênero “gore” não costuma perdoar,tanto que o filme teve uma péssima recepção nos USA.

Baseado no livro não ficção The Rite, de Matt Baglio, um jornalista que conviveu com tais clérigos especializados em expulsar o mal, decidiu escrever um livro relatando as experiências do citado padre, Gary Thomas, quando foi alardeado que a Santa Sé visava colocar um exorcista em cada uma de suas dioceses. Segundo ele, existem atualmente nos EUA 15 padres autorizados a fazer exorcismos e que tudo que se mostrar no filme como ritual e comportamento é absolutamente real.

O diretor Mikael Håfström foi muito infeliz na escolha do pouco conhecido Colin O'Donoghue, para viver o papel de Michael Novak, um jovem de origem humilde que vai para o seminário porque assim pode ter uma educação melhor, só que não tem fé e pensa em largar o convento. Mas sob ameaça de seu superior é enviado para Itália estudar sobre exorcismo. Lá o protagonista conhece um dos únicos exorcistas em atividade, o Padre Lucas, e começa assim mais um round do eterno embate entre o bem e o mal, a fé e o ceticismo, a ciência e a religião.

Estão no elenco Alice Braga, com a competência habitual, faz as vezes de Baglio como uma jornalista que segue o personagem principal. Colocar os excelentes Ciarán Hinds (Padre Xavier), Toby Jones (Padre Matthew) e Rutger Hauer (o pai de Michael) em papéis secundários também ajuda a elevar a qualidade do jogo. Mas é mesmo Anthony Hopkins que rouba a cena. O ator volta a velha forma e  está inspiradíssimo, surtado, ora engraçado, ora assustador, como o Padre Lucas, pena que ele só entre em cena após meia hora de filme.

De qualquer maneira, o diabo em “O Ritual é presente, sim, mas como um oponente intelectual. Suas respostas e debates são instigantes, e como explica o Padre Lucas - "Não espere cabeças girando ou sopa de ervilha jorrando", fazendo piada com o grande clássico “O Exorcista”. Sem grandes cenas chocantes e poucos sustos fáceis, faz de “O Ritualum filme recomendável.

domingo, 1 de maio de 2011

ASSASSINO A PREÇO FIXO (2011)

Trata-se de uma refilmagem de um trabalho homônimo de 1972, que tinha Charles Bronson no papel título. Agora, sai Bronson e entra Jason Statham, astro da vez do cinema pancadaria e da franquia Carga Explosiva. Ele vive Arthur Bishop, assassino profissional de máxima competência que recebe a missão mais difícil de sua carreira: matar seu grande amigo, mentor e patrão Harry (o premiado veterano Donald Sutherland, grande ator que sempre rouba as cenas nos filmes em que atua). A situação se complica quando Bishop entra em contato com Steve (Ben Foster), filho de Harry e num ato de redenção resolve tomar Steve como seu pupilo e ambos passam a trabalhar juntos.É do personagem de Bem Foster a seqüência de luta mais incrível do filme.

Assassino a Preço Fixo” cumpre o que promete para quem assisti-lo: é eficiente nas cenas de ação, tiroteio e pancadaria. No mais, é um bem orquestrado bandido mata bandido.

Sem nenhuma pretensão, é um filme feito especialmente para quem  deseja de uma sessão de cinema nada além de entretenimento e diversão.

Incêndios (2010)

Quando 1+1 é igual a 1, esta é a resposta para “Incêndios”, filme canadense que concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro este ano.

Incêndios” é baseado na história do dramaturgo libanês Wajdi Mouwad, dirigido pelo cineasta Denis Villeneuve e estrelado pela belga Lubna Azabal. Ela interpreta maravilhosamente a protagonista, Nawal Marwan, enredada numa trágica história, unindo amor e política no Oriente Médio.

O enredo tem seu ponto de partida no Canadá, onde um tabelião, Jean Lebel (Rémy Girard, de "As Invasões Bárbaras"), convoca ao seu escritório os irmãos gêmeos Simon (Maxim Gaudette) e Jeanne Marwan (Mélissa Désormeaux-Poulin) para a leitura do testamento da mãe, Nawal.

Nawal deixou expressa uma estranha condição - que seu sepultamento não seja completado antes que os filhos entreguem duas cartas. Uma, para um irmão, cuja existência desconheciam. Outra para o pai, que julgavam morto.

Esta jornada em busca de respostas é bifurcada e duplamente fascinante, e os leva a um pais do oriente médio que nunca é identificado, dando uma universalidade aos fatos que vamos acompanhar.A história é entrecortada de flashbacks do passado da mãe e uma narrativa arrebatadora. Nesta viagem vamos ter contato com sentimentos intensos e experiências brutais e os irmãos (bem como o espectador) terão um processo de descoberta tão penoso quanto o calvário que viveu Marwan. Aos poucos a história vai desnudando aos nossos olhos uma mulher admirável, que mesmos nos momentos mais difíceis não dobrou o seu espírito.

Outra grande sacada de Villeneuve é não situar o tempo, o lugar ou a guerra que se desenrola ali, pois a mensagem é um alerta aos horrores, as intolerâncias e conseqüências dos conflitos entre os povos.

Incendios” comprova que não são necessários uma penca de efeitos especiais, astros e muito dinheiro para fazer um grande filme, precisamos sim de uma grande história.

Não deixe de ver!