Festival que reúne
filme de diversos países termina neste domingo
Materia publicada no Jornal A Hora de Santa Catarina
O burburinho dos
cinéfilos em frente ao Cine Itália resgatou, nos últimos dias, a aura dos
antigos cinemas de rua em Balneário Camboriú. Durante o festival Cinerama.BC,
que termina neste domingo, o espaço de 700 lugares - remanescente da
sétima arte na Avenida Central, uma das principais vias de Balneário
Camboriú - voltou a receber o público e a se encher com o barulho dos
projetores. Uma saudosa lembrança para quem viveu os tempos áureos do cinema,
quando as sessões eram mais do que diversão.
Vídeo conta um
pouco da história do cinema em Balneário Camboriú
- O cinema de rua tinha glamour. Todo mundo colocava a melhor roupa, era um
acontecimento social - diz Fernando Delatorre, administrador do Cine
Itália e filho de Eduardo Delatorre, pioneiro das salas de cinema na cidade.
Contador por formação, Eduardo encontrou na sétima arte sua maior paixão. Tanto
que fez apenas duas grandes viagens na vida: uma para conhecer os estúdios de
Hollywood, nos Estados Unidos, e outra para a Europa, para passear pelos locais
onde foram filmados os grandes clássicos do faroeste.
Em 1967, três anos após a emancipação de Balneário, Eduardo inaugurou o
primeiro cinema do município - o Cinerama, em plena Avenida Brasil. Dotada
de alta tecnologia para a época, com capacidade para transmitir películas em 70
milímetros, a sala era ponto de encontro para políticos de todo o Estado e
também para beldades como Vera Fischer, que frequentava o Cinerama aos fins de
semana. Foi ali, também, que Balneário recebeu a primeira visita oficial de um
presidente, João Batista Figueiredo.
Empolgado com o sucesso, Eduardo construiria ainda dois outros cinemas em
Balneário, o Cine Itália, aberto em 1984, e o Auto Cine, de 1973 -
um dos únicos cinemas drive-in do país, na Avenida do Estado.
Decadência
Os negócios foram bem até que a popularização das TVs e dos aparelhos de
videocassete, além da chegada das primeiras salas de cinema aos shoppings,
passaram a inviabilizar os cinemas de rua. Em Balneário, o primeiro a fechar
foi o Cinerama, por falta de público. O prédio deu lugar a um centro de
compras, que mantém o nome do antigo cinema.
Três anos depois, o Auto Cine transmitiu sua última sessão. Sobrou apenas a
gigantesca tela, que tinha a altura de um prédio de seis andares e acabou demolida
no ano passado.
O Cine Itália permaneceu aberto em homenagem a Eduardo Delatorre, que morreu em
2003. Hoje, funciona a maior parte do tempo como centro de eventos. Mesmo sem
esperanças de ver o cinema de rua funcionando outra vez, devido à chegada de
novas mídias para transmissão da sétima arte, vez ou outra Fernando faz uma
sessão exclusiva, para matar a saudade.
- Como os equipamentos não podem ficar parados, reunimos de vez em quando
alguns amigos e exibimos filmes, como Cinema Paradiso. Acho que a ideia de
trazer o Cinerama.BC para o Cine Itália foi uma iniciativa feliz porque é uma
forma de resgate disso tudo. Quando se assiste a um filme no cinema, a emoção é
outra.
Museu
Para eternizar as memórias do cinema em Balneário, Fernando Delatorre pretende
inaugurar, em 2014, um Museu da Imagem e do Som. O prédio, na Rua 700, está
sendo construído com recursos do empresário, e vai abrigar as cerca de 400
peças que ele mantém - entre projetores de cinema, câmeras fotográficas e
equipamentos de som.
Delatorre revela pelo menos uma das surpresas que o museu trará ao público: uma
réplica do carro protagonista de Se Meu Fusca Falasse, de 1968. O carro está
pronto, aguardando a abertura do museu.
"Tinha esperança de que ia voltar"
Aos 70 anos, Almiro Pereira, o Bilo, lembra como se fosse hoje a última sessão
do Auto Cine, em Balneário Camboriú. Era ela quem cuidava das máquinas e
projetava na tela os filmes, que embalaram moradores e turistas por mais de 20
anos. Naquele sábado à noite, em 1998, Bilo foi tomado pela tristeza. Durante
meses, continuou voltando para trocar o óleo das máquinas de projeção -
até que se convenceu de que era o fim.
- Minha esperança era que voltasse a funcionar - diz.
A história dele com o cinema começou na adolescência, quando trabalhou na
distribuição de cartazes do Cine Rio Sul, em Rio do Sul. Um dia, pediu para ver
de onde saíam as imagens que apareciam na tela e começou a aprender a projeção.
Bilo chegou a Balneário em 1978, quando começou a trabalhar no Auto Cine. Após o
fechamento, ajudou nas projeções do Cine Itália, temporariamente, e trabalhou
como motorista para Eduardo Delatorre, pioneiro das salas de cinema em
Balneário, por mais 10 anos.
- Ainda vou no cinema às vezes, mas não é mais a mesma coisa.