sábado, 10 de julho de 2010

Guerra ao Terror (2008)

Guerra ao Terror (The Hurt Locker, 2008), vencedor do Oscar de melhor filme foi lançado inicialmente no Brasil direto em DVD, pois teve uma péssima bilheteria nos USA, talvez pela falta de nomes de peso no elenco, ou pelo filme abordar um tema indigesto para a nação americana.


Talvez Kathryn Bigelow (Caçadores de Emoção, K-19) tenha feito a opção de escolher atores desconhecidos e jovens para os papéis principais, com o objetivo fundamental de fazer o espectador não se identificar com as personagens, que se sujeitam a uma espécie de purgatório, um serviço da mais baixa escala do trabalho que eventualmente é executado - por caipiras, negros, latinos, suicidas - com alguma dignidade.

No caso de Guerra ao Terror, o herói, ou anti-herói, é o sargento James (Jeremy Renner). Ele chega à companhia Bravo dos fuzileiros em Bagdá faltando 38 dias para ser dispensado, e certamente vai viver cada um como se fosse o último.

Dentro de seu uniforme, o verdadeiro "armário da dor" do título original (uma roupa de proteção para os marines ) passa seus dias desarmando bombas largadas em áreas civis. Como diz a epígrafe que abre o filme (tirada do livro War is a Force That Gives Us Meaning, do jornalista e correspondente de guerra Chris Hedges), "a guerra é um vício" e James é um viciado.

É uma rotina de operariado, mas do ponto de vista da dramaturgia tem um apelo bastante forte: um filme inteiro sustentado naquele clímax clássico, cortar o fio vermelho ou o azul do detonador.

Inerente à ação há também a reflexão sobre a natureza catártica da guerra. Essa leitura psicologizante - martelada na figura constante do médico coronel da base militar - nunca é perdida de vista. Guerra ao Terror discorre sobre o vazio existencial dos pelotões - é o reforço no conceito psicanalítico do desejo de morte.

Porque não há dignidade maior da perspectiva do soldado-operário, já que a questão é dar algum sentido a guerras administrativas como essa do Iraque, do que tê-la como cicatriz.

O filme deixa claro que a guerra é vivencia na carne e pela dor e isto fica claro em duas cenas. A primeira quando James entra debaixo do chuveiro sem tirar a roupa, ainda assim escorre sangue pelo ralo. E em outra na cena do sniper no deserto, o pente de balas já vem sujo de sangue mesmo antes de disparar.

O filme deixa claro que de qualquer forma guerrear é uma escolha mecânica, alienada, que deixa um vazio no ser, tanto que James quando retorna para casa faz suas tarefas como um robô, pois já não consegue fugir de seu vicio. Pode não agradar a grande maioria dos espectadores, acostumados a ver guerras onde a ação prevalece ante a reflexão, mas não deixa de ser um retrato digno do vazio existencial da guerra

Talvez nem fosse a melhor escolha do Oscar, mas nada disso tira o seu mérito. Gostei Muito.

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