segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Cisne Negro (2010)

Darren Aronofsky faz aqui um pequeno ensaio sobre a dualidade da natureza e dos seres humanos, no perturbador "Cisne Negro", que flerta com o cinema de horror e é um dos favoritos ao Oscar em 2011.

Alguns filmes de balé como “Os Sapatinhos Vermelhos”, de Michael Powell (onde um mestre de dança tiraniza sua aluna), “Dança Inacabada”, com Margaret O'Brien (onde uma criança ainda estudando provoca um acidente para tirar a estrela dançarina e dar a chance para sua favorita) e até “Momento de Decisão” que retrata a rivalidade de duas bailarinas, demonstraram o lado difícil e negro desta profissão: sucesso com curta duração, uma enorme concorrência e muitas dificuldades. Já para Aronofsky o balé é apenas a porta de entrada para um estudo sobre a natureza humana.

O diretor Darren Aronofsky tem tido uma carreira pessoal ambiciosa com brilhantes surpresas como “Pi”, “Réquiem Para Um Sonho”, “A Fonte da Vida” e até com o fraco “O Lutador”. Apesar de o roteiro não ser dele, e sim de uma dupla: Mark Heiman e Andres Weinsz, com certeza a influência do diretor deve ter sido grande. Parece que ele existe há dez anos, se passava originalmente num teatro (no estilo A Malvada) e foi Darren quem o transpôs para o mundo do balé.

Após ver o filme estou com o pressentimento que Natalie deve levar o Oscar de atriz, pois não há outra concorrente com um papel tão forte, tão interessante e bem resolvido. Ela ambiciona interpretar o papel duplo do Cisne Branco e o Cisne Negro do Lago dos Cisnes, um clássico da dança, ou seja, a duplicidade do personagem transborda também para a atriz.

Por envolver balé muitos tem a impressão que este é um filme fácil, romântico, que será adotado pelo público feminino. Ledo engano. Ao contrário, trata-se um drama dark, um mergulho num pesadelo e que não fica muito distante do clima de horror. A trilha musical, que parece ter sido eliminada do Oscar, aproveita a original de Tchaicowsky, mas de forma distorcida e com excelente resultado.

Nina (Natalie Portman, sempre no tom certo) é uma bailarina meiga e frágil pressionada pelas projeções de sua mãe (Barbara Hershey). A grande chance de sua carreira surge com uma nova montagem de O Lago dos Cisnes, a ser dirigida por Thomas (Vincent Cassel, aliás, muito contido e convincente, dizendo ter se inspirado em Balanchine). Ela tem a doçura necessária para incorporar o cisne branco, mas falta espontaneidade e sedução para se deixar embeber do cisne negro. Deste modo Thomas desafia Nina a buscar seu lado negro, o outro eu, escondido nas profundezas do ser.O cisne branco e o negro são desdobramentos de um mesmo ser: quando um toma consciência do outro, o temor avança sobre o filme e Aronofsky vai conduzindo a viagem pelo suspense e horror.

Darren Aronofsky faz diversas escolhas felizes que dão a atmosfera perfeita e o estranhamento necessário para filmes do gênero. "Cisne Negro" tem beleza estética de encher os olhos e tem no balé a porta de entrada para uma viagem pelos meandros da mente humana.

Darren Aronofsky mas uma vez me surpreendeu. Veja.

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