quinta-feira, 3 de março de 2011

Tela vazia

Autor: GERVÁSIO LUZ

Materia publicada no Jornal de Santa Catarina em 22/02/2011


Blumenau fica sem cinema por dois meses. Foi o que li neste jornal. Custei a acreditar. Parece coisa do arco da velha.

Blumenau – já escrevi neste e em outros espaços – é minha cidade amada, idolatrada, salve, salve. Mas aqui ocorrem fatos que vou te contar. Lembram o dito do compositor, cantor e radialista Almirante: Incrível, fantástico, extraordinário. O impossível acontece.

Sou fã da sétima arte, com algum exagero, desde o berçário. No Cine Rio do Sul, na minha terra natal, curti, garotote, ou seja, de calças curtas, seriados que antecediam o filme principal; musicais da Metro; as aventuras do Capitão Blood e Robin Hood, ambas com Errol Flynn, galã de Hollywood que, entusiasmado com a revolução cubana, trocou a espada e o arco e flecha por armas de fogo para lutar em Sierra Maestra. Enfim, tive direito a todos os gêneros.

Na adolescência e fase adulta, em cidades grandes, assistia aos chamados filmes de arte e aos quase indecifráveis produtos da nouvelle-vague e, nacionalista, ao Cinema Novo.

Culparam o surgimento da televisão pelo fechamento de grande número de casas de espetáculo. Boa parte delas passaram a abrigar templos. O profano cedeu lugar ao religioso.

Era natural que os espectadores trocassem as cadeiras de palha dos cinemas do interior pelos confortáveis sofás em suas residências. Na batalha, a telinha vencia a telona.

O que não faltavam em Blumenau eram salas de projeção. No Centro, dominavam os cines Busch e Blumenau. Nos bairros, existiam nas Itoupavas o Mogk e o Carlitos, que depois se instalou no pequeno auditório do Teatro Carlos Gomes e, mais tarde, ganhou casa própria na Rua Nereu Ramos. Não dá para esquecer o Garcia e, na Vila Nova, o Atlas.

Todos sumiram. As seis salas do Shopping Neumarkt, pequenas, porém confortáveis, passaram a atrair novamente o público.

Nosso cinéfilo-mor, Herbert Holetz, gerenciava o Busch e o Blumenau. Para garantir o seu ganha-pão, acrescentava aos cartazes os dizeres: Este filme só será exibido na televisão daqui a 5 anos! Demorava um pouco para que as fitas do circuito comercial chegassem à TV. Hoje, a realidade é outra. Em poucos meses, do telão pra telinha é um quase já.

Parece coisa de cinema – Blumenau está naquela: Luzes, câmeras e nenhuma ação!
 
Fonte: Jornal de Santa Catarina em 22/02/2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário