
Era 1909, visando ampliar seu negócio, o imigrante italiano entrou em contato com a Pathé Frères de Paris e mandou vir um cinematógrafo que passou a funcionar como mais uma atração do Pavilhão, que foi o primeiro no Rio de Janeiro. Um dos filmes exibidos com frequência por Julianelli foi "A Paixão de Cristo". A fita despertava grande interesse e seu enredo facilitava a compreensão do público através de uma linguagem que estava dando seus primeiros resultados. Tratava-se da projeção de quadros que descreviam os diferentes momentos da vida de Cristo, dividida em sete partes. Alguns anos mais tarde, a Pathé lançou o “Vitaphone”, que já permitia exibir filmes falados, que na verdade era a sincronização do projetor com um gramofone.
Agora o “Pavilhão Recreativo” já era chamado de “Circo de Variedades”, e era iluminada com gás carbureto, uma sensacional novidade para as cidades em que ainda não existia a luz elétrica! Com a aquisição do novo cinematografo, Julianelli resolveu melhorar o sistema de iluminação. Comprou então um motor Aster movido a querosene, com um dínamo de 110 v. Este equipamento era utilizado para iluminar o circo bem como o arco voltaico do projetor.
Foi em Curitiba que Julianelli conheceu e casou-se com a jovem Anna Briss, que seguiu com o companheiro viajando pelo Brasil. Por fim cansado da vida circense,resolveu indenizar os artistas que trabalhavam com ele, entregando-lhes o circo quando se apresentavam em Corupá e partiu para exibições ambulantes nos salões da região.

Com seu espírito empreendedor escolheu para exibir seus filmes o salão da Casa São José, localizado no centro de Blumenau onde hoje está a Loja Havan, mais conhecido como o Castelinho da antiga Loja Moellmann. No início do século, a “Casa São José” (Josephshaus) era um “misto” de salão de baile, bar e hotel.
Com Uma propaganda bem sensacionalista para a época – o convite formulado em português e alemão exibia “Todos ao Teatro São Jose! Ver para crer!”. A exibição de estreia da “Empresa Julianelli” aconteceu no dia 28 de agosto de 1909 quando ele além de exibir filmes alugados de outras empresas fez a exibição de sua própria produção, que filmava e revelava em laboratório que montou para esta finalidade. Munido com uma câmara 35 milímetros, ele passou a documentar eventos sociais, e principalmente, políticos da região do Vale do Itajaí e de Joinville.
Além da Casa São José, o roteiro das sessões de cinema incluía os Salões Hardt de Indaial, Hahn de Timbó, Doell de Passo Manso, Salão Koehler, de Encano e Salão Hoffsess, de Warnow.
As apresentações de Julianelli duraram por muitas décadas, e no dia 11 de dezembro de 1926, ele apresentou em Indaial, o filme de sua autoria onde registrou a inauguração da ponte daquela cidade.
Pena que grande parte da filmografia de Julianelli foi destruída pela má conservação, por fenômenos naturais, como enchentes, ou por questões de natureza política, como deve ter sido a razão da destruição da maioria dos filmes integralistas, queimados na década de 70 pela Polícia Militar de Santa Catarina.
Como cineasta, ele, filmou e deixou para a posteridade memoráveis momentos da história de Blumenau e de Santa Catarina. Fixando residência em Blumenau, cobria os acontecimentos importantes em todo o território catarinense e assim restaram fragmentos em celuloide da inauguração da Ponte dos Arcos em Indaial; os festejos dos 75 anos da fundação de Blumenau, em 1925; de Brusque e Joinville; a inauguração da Ponte Hercílio Luz em Florianópolis; a visita do deputado federal Adolpho Konder a Blumenau, arrolados entre os filmes (cinejornais) mais importantes que ele realizou e que, felizmente, estão preservados. Na época, primeiro quarto do século XX, ninguém mais fazia este tipo de cobertura em Santa Catarina.
Julianelli ficou muito conhecido do Vale do Itajaí, principalmente como cinegrafista ambulante, realizou diversos filmes sonoros na década de 30. Ao que se sabe estes foram vendidos para um paulista, cujo nome se desconhece. Já os filmes mudos foram adquiridos por Marcondes Marchetti, que também adquiriu cartazes, anúncios, fotos e outros objetos da época através dos familiares de Julianelli e conhecidos.
A Cinemateca do Rio de Janeiro possui cópias dos filmes de alguns filmes de Julianelli, que foram restaurados por Valêncio Xavier da Cinemateca de Curitiba, que recuperou filmes originais e os transportou para 16 mm.
Com seu sempre espírito empreendedor Julianelli transformou a Casa São José na primeira estação rodoviária de Blumenau e montou uma linha de ônibus para transportar passageiros entre Blumenau-Jaraguá e Blumenau-Florianópolis. Adquiriu um caminhão-ônibus Ford D, sem portas e quando havia algum imprevisto ou excesso de passageiros e carga entrava em funcionamento também um Ford-bigode. Às vezes Julianelli fazia uso da garagem do Hotel Holetz para estacionar sua frota.
José Julianelli foi circense, cinegrafista, artista, dono de olaria, dono de fabrica de bebidas e fabricante de remédios a base de ervas, que vendia durante suas andanças como cinegrafista. Mais informações sobre o empreendedor Jose Julianelli podem ser encontrados em livros da historiadora Edite Kormann e também no livro “Cinema e História” do cineasta catarinense Zeca Pires.
O mascate italiano, naturalizado brasileiro, faleceu em Blumenau aos 88 anos, no dia 18 de maio de 1971, no Hospital Santa Isabel.
filme do julianelli | blumenau 75 anos | 1925
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