sábado, 21 de setembro de 2013

Herbert Holetz e as Taras de Helena

Morreu o Herbert Holetz, o sujeito mais apaixonado por cinema que conheci.

Aliás, vamos dizer que seja um dos dois: também conheci e conversei com o Walter Mogk, que criou o Cine Mogk e fez ele mesmo, prensando, uma a uma, uma a cada dia, todas as cadeiras do cine que criou.

Conheci o Herbert ainda quando era repórter policial do Santa, há uns 30 anos. Ele era gerente do Cine Bush.

Holetz era um sujeito sério, como todo bom alemão da época, mas eu fazia piadas com ele sobre as pornochanchadas que o Cine Bush passava nos horários tardios. “Ô Holetz, fui levar minha mãe no cinema à meia noite de sábado e estava passando As Freiras Devassas. Isso é uma afronta à moral e aos bons costumes”.

Holetz sempre vinha me cumprimentar e eu aproveitava para brincar com ele: “Holetz, a gente podia produzir um filme eu e tu. Coisa de altíssimo nível, melhor que os filmes do Ingmar Bergman. Vai se chamar As taras de Helena”.


Acabamos ficando amigos.
Alguns jornalistas da época pediam cortesia para o cinema, ou furavam a fila e entravam com a carteira de imprensa.

Ressalte-se de que isso era como fumar, era algo aceito, visto com naturalidade. Era uma espécie de direito adquirido da imprensa.

Mas eu era burro, meio turrão. Me recusava a fazer isso. Ficava na fila e pagava como todo mundo.

Holetz me dava ingressos de vez em quando. Nunca pedi e acabava passando-os a alguém.
Quando ia ao Cine Bush, eu ficava na fila.

Uma ou duas vezes o próprio Holetz veio me pegar pelo braço no meio da fila: “Já falei que tu não precisa pagar”.

Bem, aí eu entrava, mas a culpa era dele…

Grande Holetz, um sujeito pacato, com grande conhecimento de cinema, mas sem ser esnobe nem chato.


Se eu o reencontrar um dia, o Holetz que se prepare: ainda não desisti de filmar com ele “As Taras de Helena”.

Autor: Carlos Tonet

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