Somente
quem conheceu tua sensibilidade e teimosia para saber a falta que farás! Ainda
lembro com detalhes de nosso encontro, em 2004, quando propus tua biografia
como meu trabalho final de conclusão de curso, transformada em livro dois anos
depois. Tua resistência inicial foi difícil de vencer. Somente a delicadeza de
tua querida companheira Lori foi capaz de driblar tua desconfiança diante desta
então estudante. Dias depois, a confirmação de que havias aceitado o convite
chegou com um cartão e uma caixa de bombons. Foi o início de uma convivência
ilimitada e única.
Os
encontros intermináveis na Fundação Cultural ou na tua casa estarão sempre na
minha lembrança, além das várias fitas cassetes que registraram os depoimentos.
Tua família me acolheu como integrante. Sou incapaz de esquecer a reação de tua
filha Regina quando estavas hospitalizado na UTI, no início deste ano. Indagada
pela recepcionista sobre qual meu grau de parentesco contigo, ela respondeu sem
titubear: “ela é filha, filha postiça!”. E era assim que eu me sentia e como me
sinto agora, órfã de ti.
Por
várias vezes, ouvi dizeres que querias ter um milhão de amigos. Bastava
caminhar contigo pela Rua XV de Novembro para reconhecer teu carisma. Mas nem
sempre foi assim. Pra muita gente foi difícil entender tua paixão obsessiva
pela sétima arte. Eu vi tu te desdobrares tantas vezes para atender a vontade
de um colega que queria assistir àquele filme raro. Não sabias dizer não.
Hoje,
olhando pra trás, eu percebo que há mais semelhanças entre nós do que eu
imaginava. E agradeço a ti, admirável Holetz, por teres me permitido abrir a
porta de tua memória para que pudesse contá-la. Como já disse o poeta Drummond,
“de tudo fica um pouco”. De ti, ficou em mim a dedicação pelo trabalho e a
paixão pelo cinema. E acima de tudo uma prática de vida coerente com teus
princípios. Ficou também um pouco de ti em cada um dos que tiveram a sorte de
te conhecer ou conviver contigo.
Vá em
paz, Holetz, com a certeza de que cumpriste uma jornada admirável por aqui!
Com
carinho, Magali*
*Magali
Moser é jornalista e autora do livro A Vida pelo Cinema: Herbert Holetz entre a
Realidade e a Ficção
Fonte: Jornal de Santa Catarina - 20/09/2013 | N° 12991
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