sábado, 21 de setembro de 2013

Personagem Principal

Protagonista do cinema em Blumenau, Herbert Holetz deixa herança de dedicação e amor aos filmes
Quando uma paixão é grande demais, ela pode durar toda uma vida, sem jamais perder o brilho. Foi assim com Herbert Holetz, memória e protagonista do cinema blumenauense. Mesmo nos últimos dias de vida, das forças que encontrava para falar rendiam histórias e lembranças cinematográficas. De olhos fechados, quando o sonho vinha à tona, a imaginação projetava seus filmes e personagens favoritos.

O jornalista e escritor Gervásio Luz conhece, pelo menos, uma dúzia de histórias sobre aquele que considera “uma entidade do cinema em Blumenau”. Com um sorriso triste no rosto, lamenta a morte do amigo:

– O romantismo do cinema morreu com ele. Holetz tomava café, almoçava e jantava cinema. Quando dormia, sonhava com os personagens dos seus filmes favoritos. Os amigos e a família do Holetz, além dos parentes, eram Cary Grant, Greta Garbo, James Dean, Marilyn Monroe... – diz Luz.

Por volta da 1h10min de ontem, a cultura blumenauense ficou órfã: Herbert Holetz foi embora. Aos 78 anos, o cinéfilo mais querido da cidade estava debilitado. Em outubro de 2012, teve diversas quedas e, durante uma cirurgia para reparar o fêmur quebrado, sofreu acidentes cerebrais vasculares (AVC).

Passou os últimos 15 dias internado no Hospital Santa Catarina. Lá, recebia visitas frequentes da esposa, Lori, com quem era casado há mais de 50 anos, e dos três filhos e quatro netos. Segundo o primogênito, Jorge, as conversas sobre cinema eram frequentes, mesmo nos últimos dias de vida do pai:

– Mesmo não conseguindo formar algumas frases direito, por causa das sequelas do AVC, ele ainda encontrava forças para falar dos filmes que amava tanto. Eu gosto de dizer que o meu pai não era um cara teimoso, era um cara obstinado. E ele foi assim até o último instante.

A obstinação nasceu quando ainda era criança, ao ser levado pela mãe a uma sessão pela primeira vez. Assim como o protagonista do clássico filme italiano Cinema Paradiso, Holetz era um menino quando decidiu que o cinema faria parte de sua vida para sempre. Na adolescência, teve contato com Reynaldo Olegário, do Cine Garcia, que o ensinou mais sobre a arte. Persistiu até conseguir trabalhar como lanterninha do Cine Busch, aos 17 anos. Tudo para assistir aos filmes. Por lá, trabalhou por 40 anos, onde foi desde lanterninha até gerente. Depois que o Cine Busch fechou as portas, em 1993, Holetz não foi mais ao cinema em Blumenau.

Sessão de cinema: um ritual

O filho Jorge não chora, por mais que os olhos se encham de lágrimas ao falar do pai. Em vez disso, o sorriso e a voz cheia de orgulho tomam conta dele, enquanto desfia elogios e conta histórias sobre a vida de Holetz:

– O maior desgosto dele foi quando eu trouxe um VHS para casa. Era sempre muito difícil fazer com que ele se adaptasse a essas mudanças do cinema, sabe? A arte corria pelas veias dele, era um amor de outro mundo – diz, emocionado.

Quando o assunto era uma sessão de cinema, conta ele, Holetz era severo: gostava de silêncio, respeito e disciplina. Para o cinéfilo, era como se a exibição do filme fosse um ritual sagrado.

– Ele não gostava, por exemplo, que mascassem chiclete durante o filme. Bagunça, então, nem pensar. Meu pai tinha um respeito muito grande pela sétima arte – relembra Jorge.

A diretora do Patrimônio Histórico e Museológico da Fundação Cultural, Sueli Petry, não hesita: diz que o amigo vai fazer muita falta.


– O Herbert era apaixonado pelo que fazia e também pela Fundação Cultural. Ele doou todo o acervo de filmes para nós, que está à disposição de qualquer pessoa. Para nós, a despedida dele representa a perda do conhecimento, da dedicação e do amor à arte de um grande homem – declara Sueli. (Colaborou Vinicius Batista)

Autora: CAMILA IARA

Fonte: Jornal de Santa Catarina

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