quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Morre o cinema

Dizer que o cinema morreu com a morte de Herbert Holetz poderá parecer, à
primeira vista, afirmação hiperbólica. Morreu sim, em parte, em Blumenau e em outras cidades. Ele gerenciou cinemas aqui (Busch e Blumenau), em Gaspar e Joinville.
Herbert tomava café, almoçava e jantava cinema, portanto, convivia com ele 24 horas por dia. Já escrevi isto algumas vezes. Da mesma maneira, afirmei que virei cinéfilo já no berçário. Mas ele me superou e quanto!
Doente, mais grave na segunda metade de 2013, preocupava-se com o andar do seu Cinearte, projeto comemorando 10 anos de vida, instalado na Fundação Cultural de Blumenau. Fundou-o com o objetivo maior de levar ao público, gratuitamente, clássicos, filmes raros.

Jorge, seu filho, contou-me que, num domingo à tarde, teria dito: - “Preparem-se que vou embora logo. Ontem, recebi visita de uns amigos que virão buscar-me”. Brincando, imaginamos quem seriam esses amigos. Gary Cooper, John Wayne, Gregory Peck, Errol Flynn, por certo.

Afinal, a vida inteira respirou cinema. Preferia os filmes antigos, dessa turma citada aí em cima. Para os novos, torcia o nariz. Para ele, não se fazia mais cinema como antigamente. Uma e outra exceção: A última sessão de cinema, Cinema Paradiso (cujo protagonista, Alfredo, tinha muito a ver com nosso herói blumenauense)...

Com o aparecimento da televisão, mesmo preocupado, dizia que não temia a concorrência. Naquela época, os filmes eram lançados comercialmente e somente muito tempo depois alcançavam o vídeo. Holetz, num cartaz de um faroeste, acrescentou: “Este filme só será exibido na televisão daqui a 3 anos!”. Hoje, tal expediente seria inútil. A produção estreia na tela grande, e, quase de imediato, sai em DVD e pra telinha é um já.

Entendia que a sétima arte oferece muito mais do que a tela pequena: “Oferece tudo. Imagem, emoções, sentimentos. Dentro do cinema, você pode viver muitas coisas que na própria vida não poderia nem ver nem viver”. Para ele, o cinema continuava sendo a melhor, a mais instrutiva e a mais barata de todas as diversões.

A jornalista Magali Moser, no livro A vida pelo cinema – Herbert Holetz entre a realidade e a ficção, acha que após uma trajetória de lutas, conquistas e decepções, Holetz só iria sossegar quando o Museu Histórico de Cinema se tornasse realidade.


Coluna Prosa e Verso para o dia 16 de novembro

Gervásio Tessaleno Luz

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