domingo, 4 de setembro de 2011

Três Homens em Conflito (1966)

Constando em varias listas e conhecido por muitos como o clássico definitivo dos westerns, o filme permanece intocável mesmo depois de mais de quatro décadas do seu lançamento.

Apesar de fazer parte de um gênero a muito abandonado por Hollywood, e de algumas tentativas de ressucita-lo com os ótimos “Os Indomáveis” e “Bravura Indômita”, parece ser difícil este gênero voltar ao gosto popular. Mas nos cinqüentões temos um carinho especial por este gênero, que gravitou em nossa infância, quem não teve o seu revolver com balas de espoleta? Em minha infância vi muitos westerns, sentado nas poltronas do cine Busch e vibrando pela vitoria do mocinho.

O mais estranho de “Três Homens em Conflito” e não ser estrelado por um dos grandes nomes do gênero como, John Wayne, Gary Cooper ou James Stweart e sim por um desconhecido, Clint Eastwood, que vinha de uma parceria firmada com o cineasta italiano Sergio Leone, e que redefiniu o gênero western e alavancou a carreira de ambos. Este foi o terceiro filme da dupla, na parceria iniciada em 1963. Leone havia se transformado de promessa em mestre de um estilo operístico e grandiloqüente de cinema, que atingiria seu auge com a obra prima “Era uma Vez no Oeste” e que influenciaria grandes ícones dos anos 1990, como Quentin Tarantino. Do mesmo modo Eastwood estava a um passo de se tornar astro em Hollywood, e mais tarde sob a influencia de Siegel e do próprio Leone um renomado diretor. No terceiro filme da parceria, contudo, ambos se superaram, e a obra acabou por se transformar, com o tempo, em um dos maiores filmes de todos os tempos, um clássico absoluto do faroeste.

Para os leitores mais novos que talvez precisem de referências pop, este é um dos filmes favoritos de Tarantino. Mas “Três Homens em Conflito” não se resume apenas a isso, ele nos proporciona uma verdadeira aula de cinema estilizado, em que Sergio Leone refina e consagra um estilo operístico de direção. Sua sede pelo perfeccionismo em seus enquadramentos é assustadora. A habilidade excepcional de Leone para construir longas tomadas sem cortes, criando tensão e atmosfera a partir da contraposição de tomadas panorâmicas espetaculares (em geral, paisagens com personagens minúsculos, do tamanho de formigas, em algum ponto da tela) e closes de rostos duros e queimados de sol, transforma o longa-metragem em uma verdadeira sinfonia de imagens e sons inesquecíveis, que evoluem em um crescendo e culminam em um duelo final, então, envolvendo o Bom, o Mau e o Feio, serve como uma perfeita síntese de toda a emoção e maravilhas que um bom bangue-bangue pode proporcionar.

Outra coisa que marcou o cinema em “Três Homens em Conflito” foi a magnífica trilha sonora composta pelo mestre Ennio Morricone, hoje a mais conhecida entre as mais de 400 compostas pelo maestro italiano. Talvez você não tenha assistindo a “Três Homens em Conflito”, mas vai reconhecer a faixa-título, repetida, em infinitas variações, ao longo de toda a película: uma mistura de assovios, gritos de coiote, coral masculino e violões. Com isto Leone criou várias seqüências sem diálogos, inteiramente musicais, que funcionam quase como videoclipes de ópera inseridos habilmente na trama. É importante acrescentar que o filme foi concebido dessa maneira. Leone e Morricone escreviam as músicas antes de filmar, algo raríssimo na indústria cinematográfica.

Os 10 minutos iniciais, já dão uma idéia do estilo de Leone, sendo que não possuem uma fala sequer. Leone gasta-os para montar o clima, apresentar seu universo. Leone vai desvendando este universo aos poucos e passam-se uma hora de projeção até a historia estar formada. Após sermos apresentados aos três personagens o Bom, o Mau e o Feio (seus nomes são irrelevantes para a trama), interpretados respectivamente por Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach. Este é um filme sem mocinhos. Os três roubam, trapaceiam e querem realmente achar um tesouro escondido a qualquer custo. Eastwood, obviamente pelos seus traços mais requintados (seu apelido é "Blondie" no filme, ou "Loirinho", segundo a dublagem brasileira), acabou ganhando a conotação de "bom".Os três personagens são absolutamente perfeitos para a história. Suas interpretações são também incríveis.

O filme não mede palavras e ações, há um nível de violência razoavelmente acentuado até para os dias de hoje, o que o torna, de certa forma, mais realista, pelo menos ao tentarmos imaginar como realmente era o Velho-Oeste.

Como trabalhava com orçamentos apertados, Leone desenvolveu um estilo que prescindia de palavras. Seus filmes não eram realistas, mas estilizados ao máximo; se passavam em um mundo de fantasia onde, de acordo com a renomada crítica Pauline Kael, “um pistoleiro caminhava um quilômetro ao atravessar uma rua”.

Assisti o filme novamente em sua versão restaurada com 178 minutos e em Bluray o que valoriza ainda mais esta obra do mestre Leone.

Não deixe de ver.

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