terça-feira, 24 de abril de 2012

Um tributo de amor à sétima arte

Esta meteria foi escrita pela grande amiga Magali Moser.


Os motivos que fazem Herbert Holetz emprestar o próprio nome a uma das mostras do 1° Festival de Cinema de Blumenau

 “Avida não é como se vê no cinema. A vida é mais difícil”. A frase é do projecionista Alfredo, no clássico filme Cinema Paradiso, mas bem que poderia ser de Herbert Holetz. As semelhanças entre o personagem da obra de Giuseppe Tornatore e o cinéfilo mais famoso de Blumenau vão além das desilusões e alegrias da trajetória de entrega irrestrita ao cinema. Com encantadora personalidade e enorme coração, Alfredo e Herbert fizeram das próprias vidas um tributo de amor à sétima arte. Acumulam frustrações diante do vazio deixado por um objeto amado. Colecionam memórias nostálgicas. Mas não se deixam vencer pelas adversidades. Como o personagem da película italiana, Holetz também sofre da “doença do cinema”. Desde que conheceu o Cine Busch, quando a mãe o levou para a primeira sessão, no início da década de 1940, o cinema entrou na vida de Holetz e não saiu mais.

Fácil seria se, a exemplo do método de censura imposto por padre Adélio, que cortava todas as cenas de beijo nos filmes exibidos no Cinema Paradiso, Herbert Holetz pudesse suprimir da memória as cenas e episódios que lhe causaram um acúmulo de mágoas e tristezas decorrentes das desilusões com a entrega ilimitada à sétima arte. Mas Holetz sabe que a vida não se compara a um filme e conhece a dor e o prazer da escolha que o acompanha desde a adolescência, quando optou pelo cinema como forma de sobrevivência.

Começou aos 17 anos, como lanterninha, no Cine Busch. A necessidade de ajudar na renda familiar obrigou-o a se afastar da sala de aula. Passou por várias ocupações, como a de auxiliar, porteiro, bilheteiro até chegar ao cargo de gerente. Foi um dos responsáveis pela criação do Cine Clube de Blumenau, ao lado de personalidades de forte influência nas áreas artística e cultural, como Gervásio Tessaleno Luz, Bráulio Maria Schloegel, Daniel Curtipassi, Elke Hering e Lindolf Bell.

Durante quase 20 anos, escreveu sobre cinema para vários jornais da região, entre eles A Nação e o Santa. Coordenou programas de cinema nas Fundações Culturais de Joinville e Blumenau, onde mantém até hoje o Programa Cine Arte. Reúne acervo que inclui vasta coleção de fotos, livros, reportagens, cartazes e fitas VHS compilados ao longo da vida. O Cine Busch guarda as suas melhores lembranças. Mas não apenas porque nas poltronas numeradas do antigo espaço teve o primeiro contato com o cinema.

O cinema morreu junto com o Cine Busch

O prédio em estilo art déco era símbolo da Alameda Rio Branco, no Centro. Tornou-se patrimônio histórico da cidade, quase como a presença ímpar de Herbert Holetz, que trabalhou por mais de 40 anos no local. O Busch foi o primeiro cinema fixo do Estado de Santa Catarina e representa todo o pioneirismo de Blumenau nesta área. Mas o primeiro contato da cidade com a sétima arte data antes da inauguração do espaço, em 11 de agosto de 1900, quando foi realizada no Teatro Frohsinn a exibição do filme: Palco Debaixo D’Água. José Julianelli, Alfredo Baumgarten e Willy Sievert fizeram história na cidade com as imagens em movimento na região do Vale do Itajaí no início do Século 20. Das projeções ambulantes, deste período, até a consolidação das salas de exibição com funcionamento regular e ininterrupto, a sétima arte passou por várias mudanças. Holetz testemunhou boa parte delas.

A trilha sonora de Cinema Paradiso, de Ennio Morricone, também serviria perfeitamente como pano de fundo da vida do cinéfilo. A nostálgica música se confunde com o clima de saudade deixado pelos cinemas fixos na vida dele. Por ter trabalhado por tanto tempo nas salas de exibição, Holetz vivenciou experiências que marcaram as transformações das casas de projeção cinematográfica na região, desde a popularização da televisão, logo depois do videocassete, mais recentemente do DVD, Blu-Ray e a migração dos cinemas para os shoppings.

Chega a ser curioso, mas ao mesmo tempo em que ele gosta tanto de cinema, não frequenta mais as salas de exibição. Prefere assistir aos filmes no conforto de casa, por entender que o cinema se descaracterizou, perdeu sua essência em função da modernização e do desrespeito do público que esquece o celular ligado durante a sessão ou faz um verdadeiro piquenique na sala. Por várias vezes, tentei convencê-lo a ir ao cinema comigo em Blumenau, mas fui vencida pela teimosia dele. Para Holetz, o cinema morreu junto com o fechamento do Cine Busch. Por isso, entrega-se às lágrimas com facilidade ao falar da vivência no antigo cinema.

Holetz costumava receber o público na entrada do Cine Busch. Mantinha o hábito de conversar com o público antes e depois das sessões. A paixão dele por esse mundo de ilusão em movimento levou toda a família a trabalhar no Cine Busch. Dona Lori, com quem é casado desde 1961, trabalhou 24 anos na bonbonnière, ao lado dos três filhos – Jorge, Letícia e Regina. Só deixou o local quando o Cine Busch fechou, em 1993. Por isso, dois anos depois, quando surgiu o convite para Holetz assumir o cinema em Joinville, não hesitou. Mesmo muito triste com o fechamento da casa em Blumenau, apoiou a mudança como forma de incentivo. Apesar da família inteira ter se envolvido com as atividades do Cine Busch, dona Lori não lembra de uma única vez em que os cinco assistiram juntos a um filme na sala escura.

Além do Cine Busch, o Cine Mogk, na Itoupava Norte, Cine Carlitos, o Atlas, na Vila Nova, o Cine Garcia (popular pulgueiro), o Cine Blumenau, na Rua XV de Novembro, se tornaram sinônimos dos chamados tempos de glória do cinema por aqui. Aquele mundo de sonhos, efeitos e sons despertava fascínio sobre a população. A época de “ouro”, cheia de glamour, dos cinemas de bairro, lembra quanto o simples ato de ir ao cinema exigia um rito especial. Nessa época, os blumenauenses desfilavam os melhores trajes nas casas de exibição. Homens engravatados e mulheres com os melhores vestidos, algumas até com estolas de pele, à espera do sinal tocar, com o aviso de que o filme iria começar. O cheiro de gel fixador do cabelo dos garotos se misturava à fragrância suave do perfume das moças e ao aroma do drops, comum no ambiente. O clima era de encontro, de paquera, de troca de gibis com amigos... de convivência.

Todas as salas de exibição tradicionais da cidade perderam lugar para o comércio ou atividades mais rentáveis. A exemplo do Cinema Paradiso, derrubado aos olhos da cidade que viu seu auge, o Cine Busch perdeu espaço e hoje serve como centro de convivência do Grande Hotel Blumenau. O fechamento do Busch foi seguido do processo de transferência gradual de todas as salas de cinema para dentro de shoppings da cidade.

O fim do Cine Busch não representou apenas a extinção de uma casa de exibição, mas o término de uma época. Para Holetz, o declínio dos cinemas de rua e o advento das salas multiplex – com som digital, poltronas confortáveis, bilheteria eletrônica – é uma fase difícil de ser superada. É perceptível como essas transformações resultaram numa mudança no hábito de ir ao cinema. Muito do ritual se perdeu.

A comodidade e a segurança dos shoppings passaram a ser mais atraentes. Mas como lembra Carlos Drummond de Andrade: “quem não sentiu a perda de um cinema frequentado durante anos tem memória nublada ou coração de pedra”. Quando aceitou o desafio de voltar ao espaço do Grande Hotel, onde funcionava o Cine Busch, comigo, em 2005, Holetz reviveu cada pormenor do local que foi extensão da própria casa durante muito tempo. Os pequenos detalhes encontrados no então cinema foram relembrados com intensidade, e mostram que quando algo é realmente importante na vida de alguém, não desaparece tão facilmente. A memória de Holetz era de se impressionar. Lembrou dos intervalos que fazia para o café com dona Lori, na confeitaria Socher. O encontro teve o cheiro do bolo de nozes que costumava pedir. Na subida dos primeiros degraus, ensaiava dar comida aos passarinhos, como fazia quando trabalhava na casa. Holetz sabe que a vida é feita dessas pequenas memórias.

Dona Lori reconheceu a paixão do companheiro desde o início. A relação, que começou como amizade e se fortaleceu com a troca de livros na juventude, consolidou-se com o casamento e gerou três filhos e quatro netos. Naquela época, costumavam namorar as quartas-feiras e aos sábados. Quando assumiram o namoro, Holetz foi apenas à primeira quarta-feira na casa da moça que, na época, trabalhava na então casa Peiter, de secos e molhados, na Rua XV. Na segunda semana, já disse que não poderia mais ir, que teria de trabalhar no cinema. Começava aí a compreensão inesgotável de Lori para com o companheiro.

Jornalista, autora do livro A Vida Pelo Cinema:

Herbert Holetz entre a Realidade e a Ficção, publicado em 2006

MAGALI MOSER


 Materia publicada no JSC - Caderno de Lazer+Cultura em 23/04/2012 | N° 12552


domingo, 1 de abril de 2012

A Separação (2011)

 Vencedor do Urso de Ouro de melhor Filme e de Urso de Prata de Melhor Ator e Melhor Atriz, este é um filme que envolve desde a primeira cena, quando acompanhamos Nader (Peyman Moaad) e Simin ( Leila Hatami) discutindo diante do juiz, os motivos porque querem a separação.

O diretor iraniano Asghar Farhadi nos coloca frente a uma questão: Quem esta com a razão quando todos têm razões legitimas? A separação que dá nome ao filme já começa praticamente consumada. Ela quer morar fora do Irã e levar sua filha, enquanto o marido insiste em ficar em Teerã para cuidar de seu pai idoso, que tem Alzheimer. O juiz nega o divórcio, pois não há, no seu entender, um fato suficientemente grave para justificar a separação. Este é apenas o estopim de varias tramas paralelas. Vale dizer apenas que a trama de A Separação retorna constantemente para a mesa de um juiz, criando uma situação de sufoco que surge da repetição kafkiana de situações de tribunal.

Farhadi usa o drama familiar para retratar a realidade iraniana, tais como os conflitos religiosos, as brigas de classes, sem mocinhos nem bandidos, apenas pessoas que fazem as coisas erradas e se veem obrigadas a lidar com as consequências.

Não deixe de Ver!

Guerreiro (2011)

Num primeiro momento as mulheres podem se afastar deste filme em função do titulo que remete a violencia, mas na verdade este é um drama nos moldes de “O Vencedor” com Christian Bale e Mark Wahlberg, mas invés de se passar no mundo do boxe somos levados as lutas do UFC.

Este é um daqueles filmes que vai alem de uma simples abordagem do esporte em si, e a busca pura da distribuição de porradas que tanto agrada as plateias, tanto que o filme veio direto para as locadoras ficando fora do circuito dos cinemas.
Se em “O Vencedor” tínhamos uma mãe dominadora, aqui temos uma inspirada interpretação de Nick Nolte no papel de ex-lutador e ex-alcoolatra que “encontrou Jesus”, mas para isto deixou um rastros de estragos físicos, morais e psicológicos em sua família.

Tommy Conlon ( Tom Hardy) é um ex-Marinheiro, que está com o passado lhe perturbando e que busca a todo custo encontrar a paz que há muito tempo perdera. Ao saber da existência de um grande torneio de MMA, o rapaz entende que é hora voltar para casa e oferecer a seu pai, alguém que para ele não tinha importância, a função de seu treinador e apenas isso. Paddy, pai te Tommy, é um ex treinador que luta constantemente contra o álcool e que exatamente por este mal, perdeu o respeito daqueles que o amavam. Brendan(Joel Edgeton), o outro membro da família, é um professor de física que vive o drama de tentar sustentar a sua família com dignidade. Ex lutador, ele encontra neste torneio a chance de conseguir o dinheiro necessário para manter a casa, que está em risco.
Mas os homens não precisam se preocupar, o filme é repleto de pancadarias e as cenas de luta muito bem coreografadas.

Dirigido por Gavin O’Connor  que já havia explorado o drama familiar em “Força Policial”, acerta o ponto deixando as ações falarem mais que as palavras. Apesar de algumas situações implausíveis, é catártico o confronto final.

A Mulher de Preto (2012)

A Hammer Films – Produtora inglesa de filmes de terror teve seu auge nos anos 50, 60 até meados dos anos 70 – fazendo produções caprichadas de terror. Ela voltou a ativa, sob nova direção em 2008 e foi responsável pela produção de “Deixe-me Entrar” e “A Inquilina”.
“A Mulher de Preto” é o que mais se aproxima da estética e dos temas consagrados da Hammer. Talvez venha daí a impressão de que seja um filme à moda antiga, preocupado não só com a direção de arte sinistra e com sustos de vultos, mas principalmente com a atmosfera gótica, marca registrada da produtora.

Daniel Radcliffe (Arthur Kipps) o eterno Harry Potter, agora em papel mais maduro, faz o papel de um jovem advogado e pai viúvo, cujo emprego está por um fio desde que a morte de sua esposa o desestabilizou emocionalmente. Ele precisa viajar para um fim de mundo no interior da Inglaterra para cuidar dos papéis de um cliente recém-falecido, dono de uma mansão. A mulher de preto do título é o espírito maligno que Kipps encontra no vasto terreno, ora abandonado.

Para mim foi uma surpresa ver um filme de terror que não apela para a sanguinolencia típica das produções atuais de terror sem inteligência. O diretor James Watkins faz um trabalho legal, com uma fotografia magnifica e que tem na melancolia dos personagens seu traço mais marcante.

Veja!