domingo, 17 de abril de 2011

ONDINE (2009)

Neil Jordan, diretor de ótimos “Entrevista Com um Vampiro”, “Traídos Pelo Desejo”, “Fim de Caso”, “Café da Manhã em Pluto” e o fraco e mais recente "Valente", nos traz agora esta história romântica, quase um conto de fadas moderno, uma história de amor e esperança, baseado em uma lenda Celta. Na grande maioria de seus filmes há um mistério por trás de algum personagem, e em Ondine, o mistério da personagem título é justamente se ela é ou não uma espécie de sereia.

Este é o primeiro filme dele com o conterrâneo Colin Farrell que após tentar a sorte nos USA retornou para a Europa. Emagreceu, e passou a fazer papéis não de galã, mas de anti-herói.

Colin faz Syracuse, um marinheiro pescador sem muita sorte, que tem problemas com a filha pequena Annie (Alison Barry, ótima), vítima de uma doença grave que a deixou em uma cadeira de rodas e vivendo com sua desleixada mãe.

Um dia pescando, encontra na rede uma mulher misteriosa, chamada Ondine, que poderia ser uma sereia. Ou como lê a menina, uma figura lendária da região, uma espécie de foca que é capaz de se transformar em mulher por certo tempo, como o boto da Amazônia. Eles tentam esconder o segredo da presença de Ondine, mas o lugar é pequeno e aos poucos vai aflorando o mistério e sua possível resolução.

Jordan traça um interessantíssimo paralelo entre o mistério fantástico que cerca Ondine com os limites físicos de Annie. Ambas são presas às respectivas naturezas. Jordan é um artista bem paradoxal: na mesma medida que sabe muito bem criar e desenvolver temas interessantes sabe desvirtuá-los com um injustificável senso de veracidade.

É uma pena que Jordan se traia tanto quando atinge, por instantes, momentos sublimes, como as silhuetas de seus personagens ou mesmo a sereia saindo da água e se revelando para a criança deficiente. São os alicerces do filme, sua beleza e inocência, que Jordan desfaz quase que brutalmente, somente para fazer da história aceitável do ponto de vista cético dos adultos.

Enigmas de um Crime (2008)

Uma série de assassinatos assombram Oxford ultimamente e a esperança dos moradores da região estão com dois homens: Arthur Seldom (John Hurt), um prestigiado professor de lógica, e Martin (Elijah Wood), um jovem estudante que acabara de chegar à universidade na expectativa de estudar com o professor. Ao que tudo indica, os crimes estão ligados por códigos, estranhos símbolos e números matemáticos. Professor e estudante juntam suas habilidades para desvendar o mistério e montar esse difícil quebra-cabeça. Na medida em que Martin chega perto da verdade, aumenta a sensação de insegurança e incompreensão com o mundo ao seu redor.

Dirigido pelo espanhol Alex de la Iglesia, protegido de Almodóvar, que esteve a frente dos cultuados como “O Dia da Besta” e “O Crime Perfeito”, em sua estréia internacional não consegue fazer mais do que um filme banal para o gênero suspense investigativo, tipo “O Nome da Rosa” e a franquia milionária que iniciou com “Código Da Vinci”.

O filme conta com um elenco bastante interessante, Elijah Wood, John Hurt e Leonor Watling, mas ficou inédito em nossos cinemas, tanto que eu esperava mais deste mistério policial britânico.

A idéia é boa: decifrar os crimes por meio de códigos, símbolos e números matemáticos, inclusive um teorema difícil de decifrar. Logo no começo, há uma citação do diretor Brian De Palma com uma longa tomada de dois minutos, passando por vários ambientes até revelar a primeira vítima, uma mulher, uma das melhores seqüências do filme, você vai entender ao final.

Ainda assim é um gênero raro hoje em dia e sempre intrigante, ainda mais por ter um ritmo lento e não contar com efeitos especiais. Ganhou os Goyas de montagem, diretor de produção e trilha musical e foi indicado como diretor, filme e roteiro.

sábado, 16 de abril de 2011

Kick-Ass - Quebrando Tudo (2010)

Se você quer um motivo ou desculpa para ver ''Kick-Ass - Quebrando Tudo'' o nome dele é Hit Girl. Hit Girl é interpretada por Chloë Moretz, que tinha 10 anos quando rodou o longa, e é um daqueles personagens que fica na memória depois do final do filme. Além disso ''Kick-Ass - Quebrando Tudo'' pode ser visto como uma vingança dos nerds que foram motivo de chacota no filmes adolecentes dos anos 80 e 90. Agora embasados numa forte base de conhecimentos tecnológicos ou de conhecimentos que podem ser transmitidos tecnologicamente (quadrinhos e filmes de super-heróis, por exemplo), conquistaram redes sociais, a blogosfera, o mundo virtual, enfim, a sociedade deste novo milênio. A questão é simples: e se , em plena era do YouTube, da falta de privacidade digital, um moleque decidisse vestir um traje cool e sair as ruas para combater o crime.

Este é o caso do adolescente Dave ,fã de gibis, interpretado por Aaron Johnson, é do tipo que só apanhava dos atléticos e gostosões naquelas comédias colegiais americanas clássicas, filmadas entre 1980 e 1985. Franzino, ignorado pelas mulheres e meio gago quando está próximo delas, e sempre na companhia de outros nerds iguais a ele, encontra uma maneira de ser cool quando pede pelo correio uma roupa de super-herói que mais parece fantasia de carnaval: colorida e infantilizada, algo que não cai bem dentro de suas intenções. Após ser espancado tentando combater o crime ele vai parar no You Tube, e seus amigos no MySpace começam a se multiplicar depois disso. Ele vira uma coqueluche nacional, com direito a comentários na televisão.

Então entram em cena ex-policial vivido por Nicolas Cage, que depois de ser condenado por artimanhas de um traficante poderoso passa a treinar no cárcere e a persegui-lo anos de treinamento e que arrasta sua filha a um mundo de insanidade e violência sendoi treinada por ele para ser sua ajudante. São chamados de Big Daddy e Hit Girl.

Dirigido por Matthew Vaughn, dos fracos ''Nem Tudo é o Que Parece'' e ''Stardust - O Mistério da Estrela'', o filme é a típica versão do fracassado social que emerge à fama instantânea possível em nossos tempos, além de uma exploração das possibilidades de adaptação de uma HQ (''Kick-Ass'' originalmente é uma HQ de sucesso nos EUA). A pergunta que fica é: e se de fato alguém se vestisse de super-herói e saísse às ruas para combater o crime?

Pop, violento, barulhento e super divertido!

Vicio Frenético (2009)

Em 1992, o diretor americano Abel Ferrara dirigiu “Vicio Frenético” estrelado por Harvey Keitel e considerado sua obra prima. O filme se tornou um pequeno classico do cime moderno, mas o alemão Werner Herzog, não se intimidou transferiu a história de Nova Iorque para uma Nova Orleans pós Katrina. O resultado é um filme menos amargo que o original e com alguns momentos de comicidade, e com Nicolas Cage num otimo desempenho, o que tem sido raro ultimamente.

"Vicio Frenetico" se passa num cenário de destruição, rastro deixado pelo furacão Katrina e com uma analogia a situação que o personagem principal irá mergulhar. O filme inicia com o policial Terence (Nicolas Cage) mergulhando numa penitenciária inundada, para salvar a vida de um detento que está prestes a se afogar. O ato heróico lhe rende uma contusão na coluna, que o obriga a passar o resto da vida tomando analgésicos. Daí, para o tal vício frenético do título em português, é um passo: Terence mergulha agora num coquetel de drogas e acaba entrando numa espiral destrutiva, e vai cavando um buraco tão grande no desastre que se tornou a sua vida que é impossível imaginar uma saída para ele, mas apesar disso Cage consegue construir um personagem tão humano em seu desempenho que é impossível não ser simpático a ele.

Como falei acima Herzog criou alguns momentos cômicos no seu filme que na grande maioria são alucinações do personagem, como quando Nicolas Cage faz uma transação com um gangster negro, e um outro gangster vai cobrar uma dívida, causando um tiroteio dentro da casa, a seqüência termina com a alma do gangster realizando passos de dança de rua - algo como uma fusão do break com o hip-hop - e uma iguana andando entre os cadáveres. Outro momento acontece quando os policiais estão de tocaia, com os diálogos comuns a essa situação, e Cage enxerga duas iguanas em sua mesa, e as iguanas começam a cantar um soul.

È um filme diferente do original, mas tão bom quanto.

Veja!

domingo, 10 de abril de 2011

Mary e Max: Uma Amizade Diferente (2009)

Esta é uma história de amizade entre duas pessoas solitárias e muito diferentes: Mary Dinkle, uma menina gordinha e solitária, de oito anos, que vive nos subúrbios de Melbourne, tem uma mãe alcoólatra e é perseguida pelos colegas da escola e Max Horovitz, um homem de 44 anos, obeso e judeu que vive com Síndrome de Asperger no caos de Nova York. Esses dois seres desajustados começam a trocar cartas e a trama atravessa os anos para mostrar como esta amizade transforma a vida de Mary e Max e sobrevive muito além dos altos e baixos da vida.

Apesar de ser uma animação “Mary e Max: Uma Amizade Diferente” é um filme adulto, melancólico e toca fundo em temas com a amizade, o preconceito, as relações familiares, frustrações e a dificuldade de ser diferente. Aviso novamente não é programa para crianças. É um filme de poucas cores mas te intensa poesia, onde o diretor australiano Adam Elliot, faz um trabalho primoroso e usa as nuances da cor para polarizar seus personagens, que vivem dois peixes fora da água.

Mary e Max é viagem que explora a amizade, o autismo, o alcoolismo, de onde vêm os bebês, a obesidade, a cleptomania, a diferença sexual, a confiança, diferenças religiosas e muito mais.
Um filme pessimista, mas tocante e inesquecível.

"Voce não escolhe seus parentes, mas escolhe seus amigos"

domingo, 3 de abril de 2011

Uma Aventura na África (1951)

Considerado um clássico do cinema e incluído entre os filmes com recomendação especial de preservação na biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e conste dos 250 títulos mais bem votados do site IMDB e tenha dado o Oscar de melhor ator a Humphrey Bogart este é um filme famoso também por suas historias de bastidores que foram muitas.


Tanto que o DVD lançado pela Paramount trás um excelente documentário de cerca de uma hora sobre o filme. O título, ''Abraçando o Caos'', refere-se à aventura real que foi rodar mais da metade das cenas em locações na selva africana, no antigo Congo, hoje Zaire, e no lago Alberta em Uganda, quando isso ainda era absolutamente incomum.

Katharine Hepburn chegou a escrever um livro inteiro em 1987 , intitulado “The Making of African Queen” a respeito dos perigos, inconvenientes,doenças da equipe, calor e outros problemas que afetavam a todos menos Bogart e Huston, porque segundo contam bebiam demais.

O roteirista e critico James Agee (que teve um enfarto enquanto escrevia o roteiro) desejava que a viagem pelo rio simbolizasse o ato de amor entre o casal e criticou muito o roteiro final de Peter Viertel, e anos mais tarde, ele também escreveu um livro sobre as filmagens, que deu origem ao filme de Clint Eastwood (no papel de Huston), chamado “Coração de Caçador”.

Bogart interpreta Charlie Allnut, um canadense beberrão que conduz um cargueiro a vapor por um rio no leste da África. Hepburn é Rose Sawyer, uma missionária inglesa, que vive com o irmão (Robert Morley), pastor protestante, numa aldeia no meio da selva. O ano é 1914. A Primeira Guerra Mundial acaba de começar e soldados da Alemanha, que controlam politicamente a região, punem os adversários ingleses incendiando a missão religiosa. O irmão de Rose enlouquece e morre, e resta a ela voltar para casa. O barqueiro fará esse trabalho.

Imbuída de fervor patriótico, Rose propõe a Charlie transformar o barco, que transporta explosivos, num torpedo que atacará um navio alemão estacionado no lago onde o rio desemboca. Por maluca que seja a ideia, ela o convence. Como também o convence (um pouco a força) a deixar seus hábitos alcoólicos e encarar a vida de maneira menos cínica. Já ele ensina a ela algumas coisas sobre a vida mundana. Apesar do conhecido pessimismo do diretor John Huston, a retidão moral de Rose não é abordada com ironia, apenas com ceticismo. Na seqüência inicial, o esforço de catequização dos nativos é mostrado comicamente em todo o seu equívoco.

É notável a química e o bom humor com que os dois atores, já bem maduros, compõem seus personagens. Hoje em dia, em que os espectadores são mais atentos, incomoda a percepção que se tem que grande parte das cenas no rio e mesmo o ataque final ao navio alemão, que foram rodadas em estúdio, são situações não muito convincentes (com tela de projeção ao fundo). .A rigor, o filme não precisaria ter sido rodado em locações (não há, por exemplo, planos muito abertos da selva ou do rio), a não ser, como é explicado no extra do DVD, o gosto pela adversidade cultivado por John Huston e os apuros políticos que ele e os protagonistas estavam sofrendo em casa nas mãos do senador Joseph McCarthy. No entanto, dificilmente a relação entre a missionária e o barqueiro pareceria tão viva se os próprios atores e a equipe não tivessem experimentado o prazer do contato com a natureza selvagem e as marcas do sol, dos insetos e das chuvas diárias durante as filmagens. Saltam da tela a tensão sexual e a necessidade de abrigo dos dois personagens.

sábado, 2 de abril de 2011

Caça as Bruxas (2011)

Não sei o que acontece com Nicolas Cage, ele é um bom ator, talentoso como se pode ver em “Kick-Ass – Quebrando Tudo” ou por "Despedida em Las Vegas", mas ultimamente ele tem feito escolhas que nada acrescentam à sua carreira cinematográfica e não fazem jus ao seu talento, desses posso citar uma série de projetos sem futuro como “Aprendiz de Feiticeiro”, “A Lenda do Tesouro Perdido: O Livro dos Segredos” e “Perigo em Bangcok”, o mais recente exemplo desta lista é este "Caça às Bruxas", dirigido por Dominic Sena.Tudo o que Cage e o diretor Dominc Sena conseguiram criar de divertido em “60 Segundos” perde o sentido neste suspense sobrenatural de época e sem propósito.


A história mostra dois amigos que decidem se alistar nas Cruzadas em troca de perdão divino. Mas, depois de muito matar e saquear em nome de Deus, Behmen (Cage) tem um surto, e perde a fé ao ver soldados a seu lado assassinando mulheres e crianças nas batalhas religiosas em vários continentes, acaba assim desertando do Exército de Deus, sempre acompanhado do seu amigo Felson (Ron Perlman).

Na viagem de volta da Terra Santa, os dois vão de encontro a Peste Negra e, que segundo a igreja, foi gerada por uma Bruxa. Depois de serem capturados e jogados em um calabouço, os dois aceitam uma última missão em nome Dele: levar uma menina acusada de bruxaria até um monastério onde ela seria julgada. Tudo o que o correto Behmen pede é um julgamento justo e sua espada de volta. Felson, por sua vez, quer ser absolvido da deserção. Com carta branca do Cardeal (Christopher Lee, irreconhecível pela maquiagem que deixa seu rosto completamente deformado pela peste), os dois formam o grupo que vai levar a moça através de florestas escuras e penhascos. Coisa simples. Tão simples como montar a lista com a ordem em que cada um vai morrer e quem vai chegar até o final para a batalha climática.

De bom sobram apenas algumas falas engraçadinhas para Ron Perlman, e grandes dúvidas sobre os critérios que levam Cage a entrar nos projetos.

Vidas Que Se Cruzam (2008)

O roteirista Guillermo Ariaga, dos aclamados que nos deu os ótimos “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”, faz uma estréia brilhante na direção com este filme.


No meio do nada, numa paisagem árida e ensolarada, um trailer se incendeia e explode. Este é o ponto de partida de uma historia que fugindo de uma narração linear vai nos apresentando diversos personagens que em algum momento estarão ligados. Assim Ariaga vai montando seu quebra-cabeças e nos levar a um final surpreendente.

É neste clima de desolação que onde passado e o presente podem ter um efeito curioso sobre as pessoas separadas pelo espaço e pelo tempo. Mariana, uma garota de 16 anos está tentando unir as vidas destroçadas de seus pais em uma cidade na fronteira do México. Sylvia, uma mulher que vive em Portland deve realizar uma odisséia emocional para apagar um pecado de seu passado. Gina e Nick, um casal que tem de lidar com um intenso e proibido caso; e Maria, uma jovem garota que precisa ajudar seus pais a encontrar a o perdão e o amor. Os cincos começarão suas próprias jornadas em busca de redenção e descobrirão que suas ações poderão fazer a diferença entre a vida e a morte.

Ariaga prioriza mais os tempos que os espaços fílmicos sua narrativa é intercalada entre o tempo atual e o cruel tempo passado que mostrando o porquê da dor dos personagens do presente. Com muita sensibilidade e sem cair nas fáceis armadilhas rasas de causa e efeito, ele não faz questão de colocar seus personagens em cenários diferentes para melhor situar passado e presente, os cenários de desolação e frieza estão presente em todo decorrer do filme, reforçando o sentimento interno de seus personagens.O recurso só cria ainda mais interesse pela trama, contada em precisas doses cinematograficamente homeopáticas e atraentes.

Com um trilha sonora melancólica, tempos de silêncio, interpretações marcantes e um jeito sem pressa de contar uma boa história valeram a "Vidas que Se Cruzam" um convite para participar da Mostra Competitiva do prestigioso Festival de Veneza de 2008. Não ganhou como filme, mas rendeu um prêmio de interpretação para Jennifer Lawrence. Talvez merecesse mais, não importa. O que vale mesmo é conferir de olhos e coração abertos esta mais do que promissora estréia de Ariaga na direção.

Vale a pena descobrir!